Como não poderia deixar de ser, por mais de 1 hora na aula desta segunda-feira, puxei o assunto com os meus alunos de jornalismo. Muitos pontos foram discutidos e nenhum teve unanimidade de opiniões. De qualquer forma, tentarei mesclar um pouco do que foi falado em sala com o que escreve Alex Primo, que tratou sobre o mesmo assunto em seu Dossiê, e em boa dose eu concordo com as linhas que lá estão.
“Assim que peguei o jornal em minhas mãos vi o mesmo anúncio com Fernanda Torres que anunciava: “Enquanto se discutia o futuro do jornal, a Folha fez o jornal do futuro”. Jornal do Futuro? Quando vi esse mesmo anúncio há uma semana, fiquei tentando antever o que as renovadas páginas do jornal nos trariam. Fiquei torcendo por mais opinião e o fim de manchetes que repetiam o que todo mundo já sabia desde ontem. Além disso, imaginei que o projeto gráfico ficaria tão moderno ao ponto de lembrar páginas de portais da Web (seria mais uma concretização do conceito de remediação!)”, diz o pesquisador da UFRGS. Concordo.
Na tentativa de salvar o impresso, as empresas estão apostando em muitas fórmulas, e a Folha não fugiu à tendência. Sem dúvida alguma, numa estridente divulgação, o jornal chamou a atenção dos leitores (muito mais do que a recente e acanhada mudança no Estadão) e gerou uma mudança radical na roupagem – aliás, dá vontade de clicar em alguma frase colorida da primeira página do impresso, que mais parece a capa de um site de notícias. Em relação ao conteúdo, fica a mesma dúvida apresentada ao Frias no documentário divulgado pelo grupo: como pode ser mais analítico e mais conciso ao mesmo tempo?
Diz Primo em outra parte: “Enquanto o elevador me levava até meu apartamento, fui abrindo os primeiros cadernos do jornalão… eu não podia esperar para ver o jornal do futuro. A Folha prometia revolucionar o jornalismo impresso e eu, um assinante de anos, queria ser testemunha desse momento histórico. Pois eis que à medida que eu ia folhando as páginas dos cadernos, meu entusiasmo foi perdendo força. Sim, encontrei um novo projeto gráfico, que oferecia mais cor e melhor legibilidade. Mas onde se escondia a revolução prometida?”.
É fato que a Folha impressa buscou uma aproximação grande com algumas das principais características da Internet, e a aposta tanto pode dar certo quanto pode ter sido um tiro no pé. O Ilustríssima trouxe uma página chamada “Minha História”. A “Folha Corrida”, que já existia no Cotidiano, mais parece a página de frases da Veja. Bem, eu não duvido que a grande maioria dos impressos diários se transforme em semanários daqui uns anos.
Ainda sobre o Ilustríssima, eis duas páginas que vale a pena citar. Esta da esquerda, que fala sobre eventos culturais, foi inteira produzida lembrando uma infografia, que remete a linhas de metrô. Nem melhor nem pior, apenas diferente, como diz o slogan de uma escola de samba carioca. A maioria dos alunos gostou. Eu acho que combina mais com a Internet – fico querendo passar o mouse nestas bolinhas para ver se abre uma caixa de texto. E o texto da direita, “O cachorro”? Com aparência de Blog, parece que foi inteiro selecionado com o mouse, para depois receber um ctrlC + ctrlV.
As mudanças no caderno Esportes foram boas. Nenhuma novidade, já que outros impressos partiram antes para o mesmo caminho, mas ficou bom. Fotos com mais qualidade de impressão (aparentemente) – novamente uma alusão a uma revista – e em maior quantidade. Mais colorido e mais leve.
No geral, “é bem verdade que a diagramação ganhou mais movimento. Ficou menos dura e quadrada. Os encorpados títulos e intertítulos poderão captar a atenção do leitor mais ligeiro (…)”, diz bem Alex Primo. E a conclusão do gaúcho também será aproveitada pelo autor deste post: “A Folha ontem apresentou apenas mais uma reforma (…) Agora, se ela acha que isso é o jornal do futuro, realmente os jornais impressos não tem salvação”.